O primeiro princípio do gerenciamento de cores tem por objectivo medir precisamente as cores de um dispositivo envolvido com o processamento digital de imagens. A medição de cores de um dispositivo é realizada por meio da correlação do sistema de cores particular deste equipamento, seja RGB ou CMYK, a um sistema de cor absoluto, que seja independente de qualquer dispositivo ou tecnologia. A partir desta correlação é possível obter valores precisos e universais das cores capturadas ou geradas pelo dispositvo.
Para ser independente de qualquer dispositivo, um sistema de cores absoluto é construído a partir das características mais primitivas de cor: as propriedades físicas dos objectos, da luz que o ilumina e pelo modo como o ser humano percebe e distingue as cores.
A cor de um objecto varia de acordo com três factores:
- a luz que o ilumina;
- as características físicas da superfície desse objecto;
- a captação da interacção entre a luz e a superfície do objecto pelo olho humano, que, em última instância, gera a percepção da cor pelo homem.
Para medirmos as cores de um dispositivo precisamente, recorremos a colorimetria. Ela estabelece os sistemas de medidas da percepção humana das cores. Ou seja, as medidas colorimétricas medem como o olho “vê a cor” e são medidas “absolutas” de cor, independentes das características particulares de qualquer equipamento. Actualmente, os sistemas colorimétricos mais empregados são o CIE Lab (mais moderno e popular) e o CIE XYZ, ambos padronizados pela CIE (Comission Internationale de L’Eclairage – Comissão Internacional de Iluminação, em português). Nos sistemas colorimétricos, cada cor é representada por três variáveis, (L, a, b) no sistema CIE Lab e (X, Y, Z) no sistema CIE XYZ.
Dessa forma, a caracterização é o processo de mapear o sistema de cores particular de um equipamento em um sistema de cores colorimétrico. Esse mapeamento é obtido por meio de instrumentos especiais de medição de cores: os espectrofotômetros e colorímetros. Os espectrofotômetros são instrumentos mais sofisticados, e usualmente mais caros, sendo apropriados para a medição de equipamentos de impressão e monitores. Os colorímetros, por sua vez, por serem mais simples e baratos, normalmente se limitam para medição de monitores.
O resultado da caracterização de um equipamento, na prática, é a produção de uma grande tabela que correlaciona as cores RGB ou CMYK deste equipamento em valores CIE Lab ou CIE XYZ. Essa tabela tem a função de “traduzir” entre um sistema de cores particular e um sistema colorimétrico, que é absoluto e totalmente independente do equipamento.
Antes de efetuar a caracterização das cores de um equipamento, é importante assegurar que o mesmo esteja em perfeitas condições de uso. Ou seja, é importante que ele esteja devidamente regulado e ajustado no momento da caracterização.
Esta regulagem é chamada de calibração, que é o processo de alterar as características de um equipamento para que ele opere dentro de condições otimizadas, especificadas pelo fornecedor ou por padrões de mercado.
Por exemplo, a calibração de um monitor consiste, entre outros ajustes, em regular os controles de brilho e contraste para obter boas condições de visualização.
Muitos usuários referem-se à calibração de maneira informal, se referindo ao processo de caracterizar um equipamento. Isso acontece devido aos chamados “softwares de calibração” de equipamentos, que na verdade realizam a calibração e a caracterização em conjunto.
De posse das informações de caracterização dos equipamentos envolvidos na produção de uma imagem, temos condição de converter as cores de cada equipamento de/para um sistema colorimétrico independente. Como os sistemas colorimétricos são absolutos, podemos usá-los como intermediários entre duas conversões, a primeira transformando as cores de um equipamento de entrada em um sistema colorimétrico e a segunda levando deste sistema colorimétrico para as cores de um equipamento de saída.
Por exemplo, convertendo-se as cores do sistema RGB de um scanner no sistema de cores CMYK de uma impressora, podemos imprimir uma foto digitalizada pelo scanner nessa impressora em particular, mantendo-se a aparência e a percepção das cores do original digitalizado.
Ou seja, é por meio das informações de caracterização dos equipamentos e de mecanismos de conversões de cores que o gerenciamento de cores mantém a aparência de cores constante ao longo de todo o processo digital.